Nem todo tremor é Parkinson, alerta neurologista

Neurologista explica as cinco fases da doença, os principais sintomas e diagnóstico

Quando os primeiros tremores das mãos começam a surgir, a primeira preocupação do paciente é com a doença de Parkinson. Entretanto, ainda que leves, nem sempre as mãos trêmulas são sinal da doença, que se manifesta também por outros sintomas, como lentidão ao falar ou baixo tom de voz, dificuldade de deglutir, ou prejuízo da postura, como desequilíbrio.


Quando esses sinais têm alguma causa identificada, o problema não é Parkinson, explica o neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Júnior. O médico que atua na área de Neurologia Funcional do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), gerido pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Estadual (Iamspe) de São Paulo, destaca que uma variável determinante para o diagnóstico é encontrar os motivos que provocaram os sintomas.

A doença de Parkinson é descrita quando ocorre o comprometimento de uma região do cérebro chamada Substância Negra, com perda acima de 75% dos neurônios.

Cinco etapas da doença e mitos

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são cerca de quatro milhões de doentes no mundo. A doença de Parkinson é a segunda patologia degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central mais freqüente no mundo. Perde apenas para a Doença de Alzheimer.

Algumas crenças não contribuem com o tratamento e até dificultam a busca para a fórmula correta de melhorar as condições do paciente. Uma delas diz respeito a alguns tipos de alimentos, que poderiam evitar o Parkinson. É mito.

Segundo o médico Oliveira Jr. alimentos ricos em proteínas costumam dificultar a absorção de medicamentos e podem ser associados à piora do quadro clínico.

É importante ficar alerta a partir do surgimento dos primeiros sinais até a evolução completa da doença, dividida em cinco etapas, conforme as escalas de Hoehn e Yahr:

Fase 1: tiques e tremores leves, de um só lado do corpo, alterações de postura, perda de equilibro, lentidão na marcha e perda da expressão facial. É importante consultar um neurologista.

Fase 2: progressão bilateral dos tremores, comprometimento da fala, maior dificuldade para andar, sentar, levantar, deitar, e aumento da rigidez muscular. A ajuda de profissionais auxiliares, como fisioterapeutas e fonoaudiólogos complementam o tratamento indicado pelo neurologista. Esta fase pode surgir em meses ou até anos após o início dos sintomas.

Fase 3: A instabilidade moderada avança com mais dificuldades de locomoção, desenvolvimento de atividades rotineiras, como se vestir ou se alimentar sozinho. O paciente começa a ficar dependente de ajuda, principalmente, por ficar mais sujeito a quedas.

Fase 4: A partir desta etapa, há um agravo dos sintomas incapacitadores. O paciente fica mais dependente para caminhar e realizar outras tarefas, com os movimentos mais comprometidos e podem surgir alterações de humor, com risco de quadros depressivos. Um psicólogo pode ser agregado à equipe multidisciplinar.

Fase 5: A fase de dependência integral impede que o paciente fique sem acompanhamento porque tem grande dificuldade para andar ou permanecer em pé. Geralmente, vive acamado ou faz uso de cadeira de rodas. Pode apresentar quadros de alucinação o que requer ajuda do psicólogo para identificar esses sinais, decorrentes, muitas vezes, por efeitos colaterais da medicação.

O especialista também classifica em dois grupos os sinais e sintomas provocados pela doença.

Aqueles fora da área motora – como perda do olfato, do paladar ou alterações psiquiátricas – são sinais difíceis de diagnosticar e correlacionar com a doença. “Os sinais não visíveis necessitam da confirmação do paciente, o que nem sempre resulta num relato real da situação”, explica o especialista.

O médico José Oswaldo destaca, ainda, que o Parkinson é uma doença idiopática (manifestação espontânea não associada a outras causas) e que, muitas vezes, alguns sintomas semelhantes aos da doença são, na verdade, Parkinsonismo, outra disfunção com sinais semelhantes ao Parkinson, mas derivada de causas diversas.

De acordo com Oliveira Júnior há um consenso entre os profissionais que o diagnóstico de Parkinson sempre deve associar redução, lentidão ou ausência de movimentos a um dos outros sintomas do grupo perceptível, como tremor, rigidez, alteração da fala, entre outros.

No entanto, existem diferentes formas de manifestação do Parkinson, que podem efetivar uma doença com ou sem tremor; com ou sem alterações de humor, de postura ou da marcha. Mas sempre há lentidão, redução ou ausência dos movimentos, destaca o especialista.

A doença de Parkinson é degenerativa e não tem cura, embora os sintomas possam ser controlados e a evolução retardada com atividades físicas, que evitam o declínio cognitivo (de atenção, raciocínio e memória); fonoterapia, para exercitar grupos musculares que atuam na fala e deglutição e reduzem riscos de engasgos, broncoaspirações e broncopneumonias.

São medidas que podem evitar internações em ambientes de terapia intensiva e asseguram maior tempo de sobrevida com qualidade.

Detecção precoce

Considerada “doença de idosos”, o Parkinson se manifesta, na maioria das vezes, na faixa etária acima de 50 anos, mas são relatados casos na faixa entre 30 e 40 anos, e acima dos 80, segundo dados do atendimento ambulatorial do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo.

Se o diagnóstico do Parkinson exige diversas avaliações clínicas e exames laboratoriais, o que, muitas vezes, retarda o início do tratamento, a prevenção pode ser atingida com medidas que estimulem as funções cerebrais e o fortalecimento muscular. Há avanços nas medicações para conter os sintomas e complicações da doença, cirurgias sofisticadas que melhoram os efeitos físicos com menor grau de efeitos adversos.

Segundo o médico José Oswaldo de Oliveira Jr. Apesar de estudos avançados, ainda não há vacina eficaz e segura para prevenir o Parkinson. “Mesmo as fórmulas já estudadas apenas interromperiam mais mortes neuronais e a progressão da doença, mas não restaurariam o tecido cerebral perdido”, destaca.

Mesmo assim, o mais importante é detectar o doente ainda saudável que poderia manifestar a doença de Parkinson no futuro como candidato a uma vacina preventiva, o que ainda não é possível, complementa.

Governo do Estado de SP