Nós sempre estivemos preparados para isso. Estudamos a vida inteira e nos dedicamos a isso. Como profissionais da Saúde, sempre estivemos prontos para este momento: enfrentar uma pandemia. A população, nossos amigos e parentes contam conosco e temos que acolher todos os medos, anseios, as doenças e dúvidas deles. Enfrentamos a Covid-19, mas poderia ter sido a queda de um shopping ou um vulcão. Não interessa! O importante é que escolhemos cuidar de pessoas quando optamos por lidar com saúde. Foi isso que falei para a minha equipe, pois estavam com muito medo de trabalhar na pandemia: Estamos prontos para entrar nas áreas Covid-19. Vamos ficar apreensivos, mas estamos aqui para dar respostas à população.
E, apesar de todas as dificuldades, oferecemos o melhor serviço e protegemos a todos dessa ameaça viral. Qualquer um poderia ficar doente, mas somos um time.
A equipe de fisiatria trabalha em recuperação de catástrofes de qualquer tipo, como acidentes e terremotos. Qualquer situação. Isso já é da nossa profissão. Se acontece um acidente individual ou coletivo, já ficamos atentos. Além do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), também atuo no Global Cooperation on Assistive Technology (GATE) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e foi com essa expertisee com auxílio do meu mentor da OMS que contribuí com o comitê de enfrentamento à Covid-19 do HSPE.
É importante explicar que o papel do comitê foi organizar o atendimento, tranquilizar as pessoas, proteger os pacientes, os profissionais e a estrutura do Hospital. Em qualquer situação de crise, em qualquer catástrofe, temos quatro fases que precisamos obedecer: vigilância, preparo, resposta e recuperação.
Na fase de vigilância com a Covid-19, ficamos atentos ao que estava acontecendo no mundo. Já na etapa do preparo, vimos que o vírus migrou da China para a Europa e poderia espalhar para outros continentes. Passamos a nos preparar, nos abastecendo de insumos, criando grupos de estudos e preparando as estruturas físicas, bem como as pessoas. Também vimos que seria necessário mudar a forma de atendimento no Hospital para proteger aqueles que assistimos. A fase de resposta é o atendimento à população nas UTIs, nos ambulatórios e em todos os lugares atendendo pacientes com Covid-19. Não temos uma divisão clássica dessas fases, as fronteiras são pouco delimitadas e precisamos pensar nelas sempre. Na recuperação, trabalhamos área habilitação das pessoas que ficaram com sequelas, sejam emocionais, físicas ou sociais, e também as estruturas do Hospital.
Diferentemente de um Hospital de campanha, que se dedica única e exclusivamente ao atendimento aos pacientes com Covid-19, o HSPE é um hospital geral, em que o desafio é manter o atendimento das doenças e situações que já aconteciam com os nossos 1,3 milhão de usuários. Nada parou! Tivemos uma redução, mas os atendimentos continuaram. O que pôde ser adiado do ponto de vista clínico, teve que ser prorrogado. Tivemos de manter o HSPE seguro para aqueles que precisam do serviço, para quem sofre um acidente, para as gestantes prestes a dar à luz e, paralelamente, tratar os doentes com o novo coronavírus. Isso porque as sequelas podem acontecer tanto pela Covid-19 quanto por complicações de doenças crônicas.
Percebemos nesse período que a população, os pacientes e as equipes colaboraram muito com o HSPE, e eu considero que todos perceberam que estamos juntos. No Hospital, tivemos homenagens dos pacientes, recebemos muitas palmas e agradecimentos. O funcionário público do estado de São Paulo e suas famílias ajudaram a proteger o nosso sistema de saúde, confirmando a estrutura consolidada do HSPE.
O grande aprendizado que fica é “precisamos pensar em todos”. Não existe Saúde sem pensar no todo, combater desigualdades e exercer a equidade. Todos nós chegamos a esse estágio da pandemia da Covid-19 mais fortalecidos, sabendo que podemos contar com a excelência do HSPE. Esse é o maior experimento sociopsicológico que o mundo passou e vamos sair fortalecidos disso.
