João Manoel da Silva Júnior, diretor do Serviço de Anestesiologia 

Nessa pandemia tivemos muitos dias de lutas, mas outros de glórias com os pacientes que conseguimos salvar do novo coronavírus.

Para a minha carreira foi um momento histórico. Desde o início da pandemia da Covid-19 no Brasil, vivemos intensamente para cuidar de pacientes com uma doença avassaladora. Neste período, percebi a diferença no que podemos proporcionar para cada doente e familiar. Antes dessa crise sanitária, parecia mais uma rotina e tudo era mecânico. Depois dela, a ideia de contribuir com a sociedade e salvar vidas ficou muito mais forte em mim.

A anestesia deixou o centro cirúrgico para participar de outras frentes do Hospital e no atendimento inicial dos pacientes. Montamos uma equipe de cuidados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), fizemos parte da passagem de acessos vasculares para manutenção de medicações e diálises, realizamos transportes de pacientes entre setores do Hospital e para realização de exames e, ainda assim, fazíamos anestesia para cirurgias.

A equipe de anestesiologia se atentou para garantir que os pacientes tivessem a melhor assistência durante o tratamento da doença. Foi um desafio mobilizar um time só com anestesistas para atender os pacientes na fase crítica, ou seja, no momento em que pacientes evoluíam para insuficiência respiratória. Criamos vários protocolos, treinamentos e discussões com a Diretoria do Hospital para que um planejamento logístico fosse desenvolvido, para agilizar os atendimentos. É importante ressaltar que no pico da pandemia, chegamos a atender simultaneamente nove pacientes - essa condição nunca ocorreu antes. Foram cerca de 800 intubações com sucesso entre março e outubro de 2020.

As profissões da área da Saúde sempre foram desafiadoras. O tempo todo convivemos com o dilema relacionado aos nossos sentimentos sobre os pacientes fragilizados e o nosso bem-estar e segurança. Ter empatia é a essência para cuidarmos bem, independentemente do momento e da doença. Tenho certeza que todo médico tenta entender e minimizar o sofrimento. Na minha área falamos pouco com os doentes e seus familiares e isso mudou durante a pandemia. Passamos a ter muito mais contato por telefone e videochamadas. Pude entrar virtualmente na casa dos pacientes e saber como era a rotina deles. Este fato se tornava dramático quando precisávamos dar uma notícia ruim a alguma família. Sofríamos juntos, mas também ficávamos alegres quando eles venciam a fase crítica da doença e tinham alta. Até hoje mantenho o contato pessoal com alguns pacientes.

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