Maria Vera Cruz de Oliveira, diretora do Serviço de Pneumologia 

Para trabalhar na linha de frente no enfrentamento ao novo coronavírus tivemos de vencer vários desafios. O primeiro deles foi se organizar para atender aos pacientes com uma doença que não conhecíamos se que é altamente transmissível. Ao mesmo tempo que estávamos aprendendo a lidar com uma enfermidade, que pode ter uma evolução muito grave, tivemos de organizar um esquema de segurança e prevenção até então não usado por nós.

Tudo mudou de uma hora para outra: nossa rotina e a dos pacientes. Fazíamos reuniões presenciais e não podíamos mais fazer. Os residentes que entraram em março de 2020ficaram com a residência um pouco confusa, porque eles têm dois anos de especialização e tínhamos um planejamento do que eles iriam aprender mês a mês e isso mudou. Ainda hoje estamos correndo atrás do prejuízo.

Durante esse período, tivemos de ter calma, nos planejarmos e nos mantermos informados para transmitir tranquilidade às equipes. Aprendi com a pandemia que não é possível planejar a longo prazo. Temos várias coisas acontecendo e tive de organizar isso no dia a dia. É uma época que ninguém esperava viver.

A covid-19 nada mais é que uma pneumonia viral com sintomas sistêmicos variados. Sabíamos quais eram os fatores de risco para uma evolução pior como obesidade, idade, hipertensão, diabetes etc. Porém não há critério definitivo e único para apontar quem evoluirá para o estado grave da doença, com necessidade de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e ventilação mecânica.

Com isso, definimos qual era o critério mandatório para internação. Desde março de 2020, foram internadas no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE)mais de três mil pessoas com covid-19 – entre casos confirmados e não confirmados. Levávamos em conta o quadro clínico e o acometimento pulmonar superior a 50%apontado na tomografia computadorizada de tórax. Para esses internados, precisávamos fazer um acompanhamento muito rigoroso, porque se piorassem necessitariam da UTI. Vimos que o que faz a diferença é a qualidade do atendimento médico, o suporte hospitalar e da Unidade de Terapia Intensiva.

Atendendo esses pacientes desde março de 2020,com o tempo e aprendizado, os critérios ficaram mais afinados, conseguimos enxergar o paciente que tem mais chances de ficar grave. O tratamento e a fisiopatologia estão ficando mais bem entendidos. Além do tratamento da inflamação sistêmica, também são tratadas as complicações secundárias como infecções bacterianas, sepse com infecção e doença pulmonar intersticial, além do tromboembolismo venoso.

Nesse meio tempo, também houve uma produção científica muito grande. Agora já existe mais segurança no manejo de paciente com covid-19. Vale ressaltar que não existe remédio preventivo para a doença, só medidas de prevenção como uso de máscara, distanciamento social e higienização das mãos.

O HSPE foi administrado de modo eficiente no enfrentamento da doença. Em nenhum momento faltou equipamentos de proteção individual (EPIs) ou medicamentos. Houve um comprometimento muito grande de toda equipe, inclusive da Diretoria e do Comitê de Crise Covid-19, que trabalhou com seriedade desde o início da pandemia.

Em todas as ocasiões tenho falado e reitero que tenho muito orgulho da equipe de pneumologia do HSPE. Mesmo no início da pandemia, desconhecendo a doença, nós tratamos nossos pacientes com toda atenção e todo carinho, comemorando cada alta dada. Tivemos um grande amadurecimento. É gratificante ver o resultado disso.

Governo do Estado de SP